O Álbum de Família: Um desfiar de memórias
Como já tinha sido noticiado aqui, o Teatro Aberto estreará no próximo dia 1 de Abril a peça O Álbum de Família.
A peça foi hoje apresentada à imprensa e surpreendeu pela profundidade das emoções e pelas memórias que nos traz a todos.
Prepare-se: O Álbum de Família é uma verdadeira viagem ao universo das memórias de Zé Luís. Uma viagem bem marcada e definida, mas nem sempre individualizada com memórias que se cruzam e entrecruzam ao longo de um texto de Rui Herbon que nos faz essencialmente recordar e reviver a nossa própria vida.
Questionamo-nos acerca da própria coerência e sanidade de Zé Luís, chegamos a por em causa o plano dos acontecimentos bem como o espaço; mas as recordações são assim, vagas e difusas e tão fortes que se apoderam de nós sem nos darmos conta e sem compreendermos a sua dimensão.
Jorge Corrula assume assim um personagem difícil. Um protagonista que exige muito de si e ao qual dá tudo e deixa transparecer bem o espírito inquieto e revoltado com tudo o que se vai lembrando. Recordar é viver, diz o lugar comum, e é isso que o Jorge nos mostra de uma forma tão forte e consistente.
Uma mãe – as mães são sempre grandes personagens em todas as artes. Mas efectivamente esta mãe destaca-se. Fernanda Neves tem aqui uma interpretação no mínimo de excelência. Um personagem desafiante, esta mãe é o alicerce da família, aquela que todos os desaires tem de absorver e permanecer com um sorriso e a força que sustenta os filhos e o marido. Mas será que toda esta força dura sempre? A vida continua e muita luta se avizinha, não há espaço para fraquezas e tudo tem de seguir em frente. A Fernanda está de parabéns, captou a essência do personagem e conseguiu momentos soberbos ao longo da peça.
José Eduardo brinda-nos com uma personagem interessante. Um pai, o sustento da família, um homem trabalhador e honesto mas no fundo revoltado com o que a vida lhe destinou. Não compreende as injustiças e sente que tudo fez pelos seus. Um trabalho igualmente interessante que adiciona a experiência dos muitos anos de palco ao elenco.
Catarina Wallenstein traz-nos a irmã de Zé Luís. Uma irmã que muito sonha, não se desligou do passado mas tem a porta aberta ao futuro. Tem esperança em dias melhores, esperança é mesmo o que define o seu personagem. Um acting surpreendente, já que esta é a sua estreia em teatro. Catarina não só nos traz uma grande solidez e segurança no seu personagem como um deslumbrante momento musical, onde interpreta uma música de uma forma muito própria e comovente, é sem dúvida um dos momentos altos da peça.
Por último, mas sem dúvida bastante importante, a personagem de Catarina Avelar, uma avó. Poderia ser como tantas outras, mas esta avó tem uma particularidade, já está morta no tempo das várias memórias. O seu figurino destaca-se no meio de todos os outros, é preto, em contraste com os tons mais neutros dos restante. Zé Luís nem chegou a conhecer a avó, e por isso está assim aberta a porta do futuro. É a avó que traz as novidades da família, e que novidades… Quanto à interpretação, Catarina é uma senhora do teatro, excelente como sempre.
Destaco ainda a importância da montagem de vídeo, quer a nível cénico quer a nível da própria acção. A música tem igualmente uma função fundamental, mais do que complementar à cena, funde-se com esta de uma forma muito íntima.
Uma encenação de Tiago Torres da Silva, com um estilo muito Brechtiano tal como nos habituou o Teatro Aberto.
É uma grande peça, com um grande texto (Grande Prémio do Teatro Português SPAutores/Teatro Aberto 2010) e que não pode perder. O Propagandista Social recomenda!
FICHA TÉCNICA
Encenação
TIAGO TORRES DA SILVA
Música
PEDRO JÓIA
Cenário
RUI FRANCISCO
Figurinos
HILDA PORTELA
Realização Vídeo
AURÉLIO VASQUES
Luz
MELIM TEIXEIRA
com
CATARINA AVELAR | CATARINA WALLENSTEIN | FERNANDA NEVES
JORGE CORRULA | JOSÉ EDUARDO
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